JOSE CARLOS DE ASSIS
Economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe-UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB
O truque de uma reforma que prepara um assalto ao trabalhador
Paulo Guedes é um sujeito de sorte. Obcecado pela ideia de assaltar a Previdência pública brasileira e transformá-la num sistema predatório de capitalização, encontrou na Presidência da República uma figura desprezível, totalmente ignorante de economia política e de solidariedade humana, que colocou a seu dispor no Congresso uma bancada de indigentes políticos que pode lhe assegurar a vitória do projeto pretendido.
Em nenhuma outra circunstância, exceto no chiqueiro em que se transformou a vida pública brasileira em todas as instâncias de poder, surgiria alguém que ousasse liquidar desse jeito a Previdência pública.
Esqueçam idade mínima, regras de transição, benefícios mínimos etc. etc. Tudo isso, e muito mais, provavelmente será “negociado” a fim de dar aos bolsonaristas do Congresso, os “novos”, a maioria deles despreparada e ignorante, a ilusão de que estão colaborando com a reforma “necessária”. O inegociável é a generalização do sistema de capitalização através de entidades privadas. Esse é o pedaço suculento de carne que está sendo preparado para os abutres dos fundos de pensão, a fim de que se reproduza no Brasil o sistema de capitalização chileno, produto da ditadura sanguinária de Pinochet, venerada por Guedes.
Mas sua sorte não para aí. A grande imprensa brasileira, cúmplice do mercado financeiro, saúda como natural nossa adesão a um sistema especulativo, sem qualquer segurança financeira, que roubou bilhões de dólares aos fundos previdenciários chilenos, e que tem levado à rua milhões de trabalhadores em protesto contra sua espoliação.